Os primeiros comentários que ouvi após o pênalti cobrado de forma ridícula por Alexandre Pato contra o Grêmio foram: "Acabou a carreira desse aí no Corinthians, a torcida não vai deixar ele jogar lá." No final da partida pelas quartas-de-final contra o Botafogo, Hernane falou que quando viu milhares de torcedores "mulambos" gritando o nome dele, a motivação pra jogar aumentou significativamente. Esses são apenas dois exemplos de que quem faz o clube ser o que ele é, é a torcida.
A torcida de um clube é o maior patrimônio que ele pode possuir. Não é o estádio, não são as instalações, não são os títulos, não é a diretoria, muito menos os funcionários (jogadores, comissão técnica, etc), é a torcida. É claro que a torcida não entra em campo e, consequentemente, não ganha jogo. Mas certamente o comportamento de um jogador muda quando olha um estádio completamente lotado com torcedores gritando insanamente o seu nome e o nome do clube. Bons exemplos disso são as torcidas do Borussia Dortmund, do Liverpool e do Boca Juniors, famosas mundialmente por empurrarem seus clubes durante os jogos.
Nesse contexto, uma pergunta é recorrente no cenário nacional: porque a torcida do Botafogo não enche o estádio? Em 1999, na final da Copa do Brasil, o Botafogo registrou o maior publico da história da Copa do Brasil: 101.587 presentes no Maracanã, entre os quais eu me incluo. Dez anos depois, 75 mil alvinegros compareceram ao mesmo Maracanã pra acompanhar a final de turno do Campeonato Carioca contra o Resende. Isso foi há apenas 4 anos. Ou seja, é óbvio que o Botafogo tem torcida mais do que suficiente pra lotar qualquer estádio no Rio de Janeiro.
O argumento mais comum entre os botafoguenses é de que não vale a pena torcer e, pra entender esse raciocínio, é necessário voltar ao ano de 1999. Mesmo com o Estádio Mario Filho abarrotado, o Botafogo não foi logrou êxito no certamente e perdeu em casa o titulo para o modesto Juventude. Três anos depois, veio o rebaixamento para a série B no ano de 2002. A volta a série A foi sem brilho, com a segunda colocação no campeonato vencido pelo Palmeiras.
Em 2006, surgiu uma luz no fim do túnel: a conquista do campeonato carioca. Mas em 2007, as decepções voltaram. No carioca, derrota na final com erros grosseiros da arbitragem. Na Copa do Brasil, eliminação em casa para o figueirense, com destaque para os impedimentos inexistente assinalados pela bandeirinha Ana Paula de Oliveira. Na Sulamericana, derrota de virada e eliminação para o River Plate de Falcão Garcia. E no Brasileirão, após derrota em casa para o São Paulo (famoso jogo do "Ninguém Cala": http://www.youtube.com/watch?v=MIAQE64iv2c) e derrocada na tabela após venda de jogadores. Em 2008, novo vice campeonato no Estadual com influencia decisiva da arbitragem no resultado das finais e cenas lamentáveis protagonizadas pelo elenco e pelo presidente do clube (o tal do chororô). Em 2009, mais um revés na final do torneio regional, com destaque para a lesão do craque e artilheiro do campeonato (Maicosuel) no jogo decisivo, além do quase rebaixamento na principal competição nacional.
Em 2010, a chegada de Loco Abreu marcou o inicio de uma nova era no clube. A cavadinha na final contra o flamengo e as fortes declarações do jogador uruguaio rapidamente o alçaram a condição de ídolo de boa parte da torcida. A meta então passou a ser a conquista de títulos nacionais e o retorno à disputa da maior competição do continente e esse passou a ser o novo calvário da torcida botafoguense. Nos anos de 2010, 2011, 2012, o Botafogo iniciou o Campeonato Brasileiro de forma avassaladora, sempre se firmando como candidato ao titulo e muitas vezes como time sensação do torneio. No entanto, nos 3 anos o final foi melancólico, sem nenhuma conquista relevante nem sequer a vaga na Libertadores. Enquanto isso, os rivais se revezaram nas conquistas de títulos nacionais, relegando o Botafogo a uma condição de mera potencia regional.
Em outubro de 2013, a história parece se repetir. Mais uma vez o Botafogo parece perder o fôlego após oito meses de excelente futebol e resultados incontestáveis dentro de campo. Fora dele, a torcida já parece ter perdido o fôlego há muito tempo. Nem a conquista de forma antecipada do campeonato carioca animou o botafoguense a comparecer ao estádio. É evidente que o retrospecto recente tornou o torcedor botafoguense extremamente desconfiado e muitos acham que não vale a pena se comparecer pra apoiar o time.
Se por um lado a desconfiança é plenamente justificada, por outro lado, a própria torcida é a única que pode reverter esse quadro. Técnicos, jogadores e diretorias virão e irão com o passar dos anos, mas os torcedores irão permanecer. São estes que devem ditar como deve ser a postura do time em campo, incentivando e cobrando dentro e fora dos estádios. Se a torcida do Botafogo não comprar essa briga, ninguem irá comprar, porque a torcida é, não apenas o maior, mas o verdadeiro patrimônio de um clube. Portanto, é necessário que a torcida se levante contra tudo, contra todos, contra retrospecto ruim, contra imprensa e decida colocar o Botafogo de novo entre os campeões nacionais. Esse papel é da torcida e ninguém fará isso por ela.
É hora dos botafoguenses tomarem a dianteira e decidirem que o Botafogo será como o seu hino diz: Campeão!